segunda-feira, 16 de dezembro de 2013


Ficção
Ana Mello

É criação de coisas imaginárias, fantasia. Vale inventar para criar um conto, 
escrever um romance. Escritores inventam, mas não são considerados mentirosos, 
embora a mentira possa ser encarada também como uma história fantasiosa. 
Mas mentir é desonesto. É uma fraude.

Por isso gosto de escrever, posso fazer coisas através dos meus personagens 
que jamais faria na vida real. No começo achei difícil, parecia impossível matar outra 
pessoa, roubar, e outros delitos mais leves. Mas foi ficando cada vez mais simples. 
Acho que tomei consciência da distância que me separa dos meus personagens
e de como isso pode ser divertido.

Os leitores mais chegados cobram sempre, querem saber por que disse isso 
ou aquilo, quando fiz aquela viagem. A resposta é sempre a mesma: pura ficção.

Nem sempre as pessoas acreditam. É claro, explico que tem a ficção misturada. 
Misturada com fatos reais. Para dar um colorido, uma emoção, aquele efeito 
que prende a atenção de quem lê.

Tenho que mostrar personalidade firme, porque isso de poder ser e fazer
através das palavras põe em dúvida quem é realmente o escritor e o personagem. 
E de repente ninguém mais confia no escritor.

Posso também ficar excêntrica e assumir um personagem escritor, que não conta 
nunca o que é real, o que sente ou pensa. Mas para isso acho que preciso de mais 
fama e fortuna. No momento o melhor é ser assim quase normal. Cheia de idéias 
e explicações, com amigos e família por perto.

Isso de mentir com convicção é para criminosos, que costumam repetir sua versão 
tantas vezes que acabam considerando-se realmente inocentes. E se duvidar todos 
também acreditam, até os advogados.